✧ Ashita no Nadja: O dia mais bonito da Espanha


            Ashita no Nadja ou simplesmente Nadja, como saiu no Brasil, é anime de 2003 inspirado nos contos clássicos de órfãos e suas aventuras. Nesse anime, temos a protagonista Nadja, uma garota que cresceu no orfanato Applefield. Ao descobrir que sua mãe ainda estava viva, Nadja é perseguida por dois falastrões que incendeiam o orfanato que ela vivia. Ela é resgatada por um belo homem loiro de olhos azuis montado num cavalo branco, e por ele Nadja se apaixona. Visando encontrar sua mãe, Nadja atravessa a Europa junto com um grupo itinerante como uma dançarina. Essa é a sua aventura de paixões e crescimento.


            Talvez para melhor leitura desse texto, eu deva introduzir brevemente os pares românticos principais de Nadja. Ela é apaixonada por Keith e Francis, dois irmãos gêmeos que são igualmente apaixonados por ela. Um deles a salvou naquela noite do incêndio. Um deles é o ladrão chamado de Rosa Negra. Um deles é um rico benevolente que faz doações e caridade para os mais necessitados.


            Esse anime possui 52 episódios recheados de histórias infantis e situações bastante previsíveis, mas apesar disso essa animação ainda possui alguns momentos bastante memoráveis que costumam acontecer não com a protagonista, mas com os personagens ao seu redor.


            Dentre esses momentos que se desviam um pouco de seu público-alvo, devo citar a história de um dos membros da trupe – um palhaço – que cometeu um crime e por isso foi preso, deixando para trás sua mulher e filho. Anos mais tarde, ele encontra sua mulher vivendo com outro homem e está feliz assim. No final ele aceita o relacionamento e que não poderá mais estar com seu filho.

            Além disso, o anime ainda retrata alguns outros relacionamentos que não deram certo, como o da cantora da trupe e um trovador viajante.



Outro momento interessante de citar são os episódios que envolvem o toureiro e sua ex. Esse era um toureiro muito feliz que possuía a mulher de seus sonhos, porém ele ainda não havia feito sucesso considerável e por isso foi abandonado por ela. Anos mais tarde ele estoura e ela decide correr atrás dele, e Nadja – como intermediadora da relação – acredita que a felicidade espera eles dois. Porém eles não estão felizes um com o outro. O toureiro não se sente satisfeito apesar de ter a mulher que sempre quis, e ela não se sente contente mesmo conseguindo todas as conquistas materiais que desejava. O homem se mostra depressivo e com comportamento suicida, desejando que às vezes estivesse no lugar do toureiro e fosse perfurado por ele (é uma fala verídica do anime, não foi poupada nem na dublagem) e que preferia morrer em seu lugar. Confusão vem, confusão vai, e Nadja consegue resolver o emaranhado desse relacionamento. Até que, no primeiro dia que o toureiro reconquista sua felicidade de viver, ele é atropelado. Fim.




Essas foram algumas passagens que considero destoantes do resto do anime. No entanto há ainda um outro momento que me faz brilhar os olhos tanto por sua direção e encanto passado, porém que ainda considero estranho. Talvez, caso você conheça a fama de Nadja, ela era uma garotinha de 13 anos que parecia bastante infantilizada e se envolvia com homens que pareciam serem mais velhos uns 20 anos a mais que ela, não é? Bom, apesar disso, os pares românticos principais dela deveriam ter 15 anos. O que me causa estranhamento é só uma questão de aparência, mas enfim. Achei que seria interessante comentar isso. Engraçado que a voz em japonês dela é bem madura em relação a dublagem brasileira, enquanto que as vozes de Keith e Francis são mais joviais do que as dubladas.




Enfim, no episódio 26 (cujo diretor de animação é o Mamoru Hosoda), somos apresentados a uma Nadja em sua mais pura inocência e encantamento com a vida. Ela fica bastante incomodada quando ninguém da trupe se interessa em sair de casa com ela num dia na Espanha. Acontece que é Siesta, um dia muito quente na Espanha cheio de mormaço que preenche todas as pessoas de preguiça por causa da temperatura. Então, por isso, eles acabam tirando uma soneca no meio da tarde. O resultado disso é um dia fabuloso cheio de luz e sombra.



No entanto Nadja deseja explorar Granada, e por isso sai sozinha. Ela está andando pela cidade sem um rumo entre suas sombras, pensando no homem que ela ama – apesar de ela não saber ainda que são duas pessoas diferentes. Ela acaba encontrando o seu prometido que a resgata seu broche roubado por uns ladrões no meio da rua.



E então Nadja começa a curtir o dia com seu amado, que ela acredita ser o Francis, entre as sombras da Siesta e os lindos cenários da Espanha... No começo do encontro ela se mantém bastante animada, mas conforme vai se aproximando do homem que ela gosta, ela vai ficando cada vez mais calada.





No início, ela mantém seus pés voltados para a luz em uma posição mais elevada do que ele, enquanto que o rapaz, que está distante dela e nas sombras, está com o rosto sempre voltado para baixo. No decorrer do episódio vão ocorrendo diversas variações sobre quem recebe a luz e quem recebe a sombra, mas é sempre denotando que a luz é um sentimento mais de exposição enquanto que a sombra é mais intimista.



A relação dos dois vai se moldando entre as danças da Nadja e Clair de Lune, até o momento em que o rapaz a presenteia com o caleidoscópio de sua mãe. Nesse momento, ela tenta enxergar com os olhos dele através do caleidoscópio, e ela revela que ele está diferente dos outros dias. Ela começa a perguntar quem ele era, como ele poderia mostrar faces tão diferentes e o quão isso era dolorido para ela. No fim, ela admite que prefere ele naquele dia do que todos os outros em que ela o viu antes. Ela prefere a pessoa que ele é agora.


Com o badalar do sino que anuncia a chegada da noite, eles caminham pela cidade como um casal. No meio da multidão e das sombras, Nadja revela seu amor por ele e acaba encontrando um homem exatamente igual a ele – seu irmão.


Acontece que o homem com quem ela esteve durante todo o dia não era quem ela pensava. Sobre a iluminação em sua face, ela descobre que eles são duas pessoas diferentes. Até que o seu parceiro do dia põe uma máscara e é revelado a ela que na verdade esse homem era Keith, o Rosa Negra, o que a faz ter uma reação bastante confusa pois ela acabou se declarando pela face que ela descobriu hoje desse homem. No entanto era uma mentira, apesar de não o ser.


Esse foi um recorte sobre o que aconteceu durante esse episódio, discuti alguns aspectos da luz e sombra usados, porém gostaria de ressaltar a importância que esse recurso possui como complemento narrativo a partir do momento em que há uma transitoriedade entre a Nadja que está cega por seus encantos e paixões e a Nadja que percebe a farsa que estava vivendo.


Outro atributo que devo explanar é que Keith tinha plena consciência, durante todo episódio, de que ela sabia que não era ele a quem Nadja estava se declarando. Ele sabia que era ao seu irmão desde o começo. Mesmo assim, ele tenta se manter no controle da relação que ali está sendo firmada, afirmando coisas como “os sentimentos que você possui agora, são sem dúvida, sentimentos direcionados a mim”. E talvez seja isso que o uso das sombras represente sobre ele – a plena consciência de que ele a estava enganando para conseguir atingir um objetivo, afinal a luz praticamente só cai sobre ele no momento em que a verdade é revelada.


No final, Nadja é deixada sozinha perante a multidão, como uma passagem entre a inocência que ela mantinha durante aquela paixão e a percepção de que ela estava sendo enganada.



Esse foi um comentário sobre como a direção de luz e sombra pode alterar a leitura da situação e complexidade interior dos personagens e como ela pode servir como recurso narrativo. Mesmo que alguns de vocês possam não ter interesse algum em Nadja, espero que esse meu diálogo tenha servido como contribuição técnica ou de apreciação de obra.


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✧ Esse post foi motivado principalmente devido ao anúncio do lançamento da Novel que vai se passar no momento em que Nadja completa 16 anos ✧

E vocês, em que mais animes, filmes, quadrinhos, etc, sentem que a luz, sombra, cores, climatização e demais apresentações estéticas possuem algum significado na interpretação da obra?
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