Acompanhar um personagem desde sua
infância até a idade adulta é uma das melhores experiências que podemos ter
como leitores, principalmente se for uma mudança gradual ou que possua poucos timeskips. Ou também, quando
acompanhamos não só o crescimento físico, mas o desenvolvimento da própria
personagem, além do próprio artista em suas habilidades narrativas e de desenho.
Recentemente, isso está sendo vivido pelos fãs de Naruto: anos e anos de
publicação e o personagem, apesar dos pulos de tempo, cresce praticamente com o
leitor, principalmente aqueles que eram seu público-alvo desde o princípio. No
mangá, acompanhamos o protagonista desde seus aproximadamente 12 anos, até a
fase adulta.
Em Mugen Shinshi, somos apresentados
ao jovem Mugen Mamiya, um detetive que é filho de uma família nobre e que
possui a habilidade da telepatia, conseguindo ler a mente das pessoas ou induzi-las.
Nas histórias somos transportados para diversos outros países, e elas costumam
ser episódicas, com personagens independentes e raramente fixos. Essencialmente
é o que precisamos saber para os introduzir aonde quero chegar.
O começo do mangá, apesar de seinen, é um pouco mais juvenil que o resto da série. É também
nesta parte em que podemos localizar o OVA. O personagem é uma criança, e os
mistérios que o rodeiam são bem leves e similares ao que vemos em quadrinhos
franco-belgas, como Tintin, por exemplo. E que, aliás, são exatamente como os casos que
encontramos no começo do mangá: histórias de aventura e investigações, com
resoluções fantásticas, lógicas, óbvias ou cômicas, o que podem incluir a
presença de dirigíveis até dinossauros. A história se passa em vários lugares
do mundo antes da Segunda Guerra Mundial, até chegar nela e sermos
transportados para o Exército Imperial Japonês, a Alemanha nazista e até Manchukuo.
O horror nesta parte inicial é inexistente, como se o autor
estivesse preparando tanto o protagonista quanto os leitores para o que viria. Ou talvez, devido a necessidade de se adequar ao modelo da revista em que era publicado na época. Daí
conforme o personagem vai crescendo, mais cenas de nudez vão
surgindo, e aos poucos o mangá vai se preparando para o que vem em frente. O
estilo visual do início da história é bastante apropriado para a época em
que ela se passa, e que também é característica do próprio mangaká: linhas
grossas com formas predominantemente redondas, fazendo especialmente o uso de
nanquim, causando a impressão de cartoon.
Finalmente, na segunda parte da história, o universo de
aventura é completamente deixado de lado para adentramos no mundo do horror de
Mugen Shinshi. Aqui a linha narrativa se torna mais séria, o personagem
amadurece e os mistérios tornam-se pesadelos, pois Mamiya é capaz de resolver
os problemas das pessoas entrando em seus sonhos, apesar de que aqui, tal
resolução não seja exatamente sempre benéfica, mas são mais como um ponto final
(o que pode incluir a morte do sonhador). E nem todos os enigmas são sonhos, podendo eles serem também as pequenas histórias que os circulam.
Voltado principalmente ao drama e mais caracterizado como seinen do que previamente, o quadrinho
deixa para trás todos seus pontos de comédia e a ambientação se fixa no Japão
da Era Shouwa. O traçado de seu autor começa a se tornar mais detalhado,
fazendo mais usos de hachura e de linhas mais finas. O folclore japonês e as lendas
urbanas europeias alimentam os arcos seguintes. Mamiya se torna um
homem sedutor bastante calmo, fumante, e com os tempos logo vem o álcool, a
frieza, ganha a capacidade de ver fantasmas e interagir com eles, mas ainda
assim, ele continua servindo os humanos.
Em seguida, o mangá se torna mais experimental, pois seu protagonista, cavalheiro e ao mesmo tempo impiedoso aos que possui aversão, ainda assim não
largando mão de boas amizades e um bom vinho, agora possui as maravilhosas
habilidades de transportar-se para sombras e corpos, até que finalmente, em sua
última parte, Mamiya torna-se uma existência transcendental além-homem ou demônio,
com um grande poder de provocar ilusões e manipular pessoas. Aliás, o mangá apresenta pequenas histórias curtas em que o protagonista não aparecem, como Crazy Anne.
Apesar de o autor preferir tratar as fases do Mugen como
diferentes pessoas, é evidente que é o mesmo personagem. O horror do mangá
amadurece de tal forma que o protagonista não poderia acompanhá-lo em seu ponto
inicial, então seu crescimento enriquece a experiência como um todo, afinal, até um "gore mais suave" começa a aparecer. O
quadrinho foi serializado em três revistas diferentes, e publicado por diversas
editoras mais tarde. A mais recente publicação foi de 2013, em que o mangaká
refez algumas de suas histórias anteriores com outras técnicas de pintura e com
alguns finais alternativos.
Ah, leitor! E se você pudesse atravessar sombras, dimensões, entrar nos sonhos das pessoas... o que faria com suas habilidades?
ᴏ ᴀᴜᴛᴏʀ
Yousuke Takahashi é o autor e ilustrador de toda série Mugen
Shinshi. Ele é especializado em histórias de horror e mistério, com mangás
tanto desenhados por ele quanto aqueles apenas roteirizados, como por exemplo
Watashi wa Kagome. Dentre seus trabalhos impressos, talvez os mais acessíveis
sejam Mononoke Soushi, cuja protagonista faz uma pontinha em Mugen Shinshi,
Man-Eater, uma coletânea de histórias curtas de horror, Gakkou Kaidan, mais uma
coleção de oneshots, porém mais voltadas pro universo escolar (são de horror
também) e Akumu Koushounin, em que o próprio Mugen Mamiya faz uma pontinha.
Quanto a animação, Mugen Shinshi recebeu um anime em 1987,
que na verdade é apenas um OVA com uma pequena história do mangá em sua fase de
aventura, com o protagonista ainda criança. Já em Yumedamaya Kidan, Takahashi
participou como character designer.
Vocês podem acessar o site oficial do Takahashi clicando aqui. E uma pequena curiosidade: Kouta Hirano é um grande fã dele. Se prestarem atenção, poderão notar as referências visuais em seus mangás. E além disso, Hirano certa vez, em um dos extras de Hellsing, desenhou o Mugen Mamiya. E apesar de eu não ter mencionado antes, em Mugen Shinshi também temos um Alucard, que é o servo... provavelmente vampiro, do protagonista.
ᴄᴏᴍᴏ ᴀᴅQᴜɪʀɪʀ
Mugen Shinshi nunca foi publicado fora da Ásia, mas pode seradquirido através da amazon japonesa, assim como outros trabalhos do YousukeTakahashi.
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