✧ TANGO: Quando o quadrinho vira música


Atualmente podemos facilmente encontrar quadrinhos que possuem trilhas musicais para ouvir enquanto lemos suas histórias e cd dramas com a narração e falas das hqs encenadas no áudio. Dentre diversos exemplos, posso citar aqui o trabalho nacional dos Quadrinhos Rasos, Achados e Perdidos, que conta com música original para climatizar e localizar o leitor na história. No entanto, este aspecto transmídia não parece tão evidente em décadas passadas. Apesar de apenas a partir desta virada de milênio, e principalmente a chegada dos anos de 2010 em que as mídias transitam entre uma e outra, os canais de comunicação tornam-se cada vez mais híbridos, pequenas sementes já estavam plantadas há um certo tempo.

Os quadrinhos em si, sempre foram bastante moldáveis. Além de sobretudo aquela "origem" já atrelada ao yellow boy, vários outros parentes das hqs surgiram muito tempo atrás, tais como o choujugiga e os padrões de Paracas, antes mesmo de quadrinhos serem quadrinhos. Apesar de hoje encontrarmos fórmulas de como estruturar um quadrinho, tanto a base de roteiro quanto a mais estética, eles estão mais do que nunca, livres. Temos no momento atual até concursos de hqs sem fala alguma. Os gibis estão muito além de balões de fala, desde sempre. A forma deles não é apenas uma, como exponho meu lado do discusso de até que ponto um quadrinho pode ser considerado um quadrinho na primeira postagem deste blog. É por isso que é importante afirmar que quadrinhos vão muito além do papel, desde sempre.

É por tal pequeno recorte histórico que hoje os irei apresentar uma história que aconteceu século passado.

Antes de publicar Tango editorialmente, tal álbum era publicado na revista de Corto Maltese, dentre 1986 a 1987 (estimo que sejam essas datas). Hugo Pratt, seu quadrinista, recebeu de seu leitor Marco Castelani, representante da banda Trio Esquina, uma carta com muitas dificuldades a seu viajante autor, em que expressava seu desejo de compor músicas sobre o personagem. Daí, eles se encontraram e surgiu a parceria. Era maluco um personagem de quadrinho ter um álbum musical próprio ambientado em uma de suas histórias. Era tão "maluco" que os editores franceses não gostaram muito da ideia e não queriam que um quadrinho e um álbum musical fossem mesclados.

O álbum Tango só foi publicado postumamente em uma edição especial com o quadrinho Tango em 1998, com músicas inspiradas no personagem de Hugo Pratt em sua passagem por Buenos Aires. Ao todo são 11 canções tanto originais quanto interpretadas pelos membros do Trio Esquina que possuem relação com Corto Maltese. O CD especial ainda conta com músicas que saem do próprio quadrinho porteño para outras partes do mundo, porém mantendo-se no Tango. Ler o quadrinho acompanhado das músicas do grupo é uma experiência similar a que temos aos atuais quadrinhos com músicas originais, porém temos o fator histórico em conta.


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ᴄᴏᴍᴏ ᴀᴅqᴜɪʀɪʀ

Em 2014, a Buda Musique republicou o CD em um novo formato, com o álbum anterior de César Stroscio. Hoje em dia é possível encontrar ainda o quadrinho e CD, porém só os encontrei de segunda mão. Caso queiram ouvir de forma legal, podem clicar aqui.

Para comprar o quadrinho em uma bela edição colorida, consultem a loja da Casterman (em francês). Que eu lembre este arco foi publicado em Portugal também, mas creio que seja menos acessível.

Essa é apenas a primeira vez que postei sobre Corto Maltese. Se preparem para mais.
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